Sempre considerei o xadrez não apenas como um jogo ou um passatempo, mas como um verdadeiro instrumento de desenvolvimento pessoal. Existe uma beleza sutil em transformar o hábito de estudar e praticar xadrez numa rotina, que, por sua vez, molda o caráter, a paciência e a capacidade analítica. Por isso, resolvi criar este espaço, um blog despretensioso, para relatar o meu processo de treinamento, minhas experiências semanais e, quem sabe, inspirar outros jogadores amadores ou mesmo apenas refletir sobre a maneira como encaramos o aprendizado.
Primeiramente, preciso dizer que o processo de treinamento em xadrez, mesmo no nível amador, exige uma organização que muitas vezes passa despercebida.
Treinar não é apenas abrir o tabuleiro e começar a mover peças aleatoriamente; envolve uma preparação mental, emocional e até mesmo uma certa humildade para reconhecer as próprias limitações. Por mais romântico que soe, o processo é árduo e, na maioria das vezes, solitário.
Esse blog nasce exatamente dessa necessidade: compartilhar meu ciclo de treinamento, documentar meus avanços, relatar os tropeços e talvez, mais adiante, perceber padrões, corrigir desvios e consolidar uma rotina mais sólida. A ideia é fazer postagens semanais (sempre que possível) para deixar registrado o que estudei, o que joguei, o que errei e o que aprendi.
Mais do que isso: quero que esse blog sirva como um espelho do meu próprio percurso, que ao longo do tempo, revele não apenas um crescimento técnico, mas também pessoal. O xadrez, para mim, é uma metáfora da vida: cada decisão tem um preço, cada erro oferece uma oportunidade de aprendizado e, por mais que estudemos, nunca teremos controle absoluto sobre todas as variáveis do jogo e nem da vida.
Sou, assumidamente, um jogador de nível, no máximo, B ou A. Já enfrentei alguns Mestres Nacionais (MN) e Candidatos a Mestre (CM). Perdi muitas, ganhei algumas. Muitas vezes, confesso, o fator decisivo foi o emocional: o nervosismo e a ansiedade acabaram comprometendo o raciocínio, e quando percebi, o jogo já estava irremediavelmente perdido.
Esse é um aspecto que poucos comentam, mas que é central no treinamento: não basta acumular conhecimento teórico ou tático; é preciso também cultivar o autocontrole, a frieza, e até mesmo desenvolver uma espécie de desapego, que permita aceitar a derrota como parte do processo e seguir em frente. Por vezes, ao perder para um jogador forte, me peguei remoendo a partida, analisando obsessivamente onde errei, mas também me senti orgulhoso por ter mantido o jogo equilibrado por tanto tempo. A experiência contra jogadores mais fortes é, para mim, uma das melhores formas de aprendizado, ainda que venha embalada em derrotas doloridas.
Não sou, tampouco, um verdadeiro estudioso ou acadêmico do xadrez. Longe de mim ter uma rotina semelhante à de grandes jogadores como Fabiano Caruana, com horas regimentadas de análise, estudo de aberturas, finais e preparação física. Minha rotina é mais modesta e, admito, um tanto caótica.
Atualmente, utilizo alguns softwares antigos da Convekta, que ainda oferecem material valioso e exercícios interessantes. Gosto também de usar o Chessimo, que, com sua abordagem repetitiva, ajuda a consolidar padrões táticos de forma prática e intuitiva.
Além disso, jogo online com relativa frequência, não muito nessa conta nem muito no Lichess. Mas é nos fins de semana que encontro um dos maiores prazeres: reunir-me na praça com meus amigos para jogar xadrez ao ar livre. Essas partidas presenciais, informais, muitas vezes sem relógio e sem anotações, são para mim uma verdadeira escola, onde o xadrez se manifesta de forma mais humana e menos mecanizada.
Sempre considerei o xadrez mais prático do que teórico. Sei que essa opinião pode ser controversa, mas, para mim, o contato direto com a prática, com adversários reais, sejam eles amigos na praça ou anônimos na internet, é superior ao estudo solitário e, muitas vezes, estéril, dos livros.
É nesse sentido que os programas que utilizo me ajudam bastante. Por exemplo, costumo jogar o “adivinhe o lance” no Lucas Chess, enquanto monto a posição no meu tabuleiro real. Essa combinação entre o digital e o analógico me agrada imensamente: permite que eu sinta o jogo nas mãos, visualize as posições de forma mais concreta e, ao mesmo tempo, me beneficie da praticidade dos recursos tecnológicos.
Nas minhas sessões de estudo, costumo focar especialmente em partidas dos grandes mestres clássicos: Capablanca, Rubinstein, Alekhine. Admiro profundamente esse xadrez mais “maestro”, mais limpo e objetivo, onde cada lance parece ter um propósito claro e uma elegância própria. Tento, na medida do possível, absorver essa estética e trazê-la para o meu próprio jogo, ainda que esteja longe de conseguir replicá-la com a mesma maestria.
Tenho, inclusive, a intenção de escrever, em breve, um artigo mais aprofundado exclusivamente sobre treinamento: como pretendo organizar meus estudos e discutir os diversos métodos possíveis. Afinal, nesse aspecto, creio que não existe uma verdade absoluta. Cada jogador encontra sua própria maneira de evoluir, conforme suas necessidades, sua personalidade e suas limitações.
Até a próxima atualização!
E se você leu até aqui, obrigado por acompanhar meu relato. Espero que, de alguma forma, este espaço também sirva como um incentivo para que você, que gosta de xadrez, encontre ou aperfeiçoe a sua própria rotina de treinamento.